terça-feira, 4 de outubro de 2011

9 # Carta para alguém que gostasses de conhecer

Nunca tive grande intenção de falar de si. Nunca tive necessidade de mostrar a curiosidade que tenho de saber mais coisas acerca da sua pessoa. Nunca fiz muitas perguntas acerca da sua morte, nem mesmo das suas vivências já feitas. Nunca gostei de tocar no seu nome , e ver os olhos delas a encherem-se de lágrimas e os seus rostos mudarem completamente de forma. Não cheguei a conhecê-lo, mas já tive tanta curiosidade em conhecer. Afinal de contas, foste o homem da vida  delas ; das duas grandes mulheres da minha vida. Para elas foste o Mundo, e ainda hoje continuas a ser. Elas apenas tiveram de se habituar à tua ausência. Demoraram anos e anos, pois eu acompanhei tudo isso desde cedo. Mas elas pensam em ti todos os dias. Guardam toda a dor para elas, e já não tocam no teu nome todos os dias. E cada vez que tocam, choram. Mas choram mesmo muito. A falta que lhes fazes, é infinita. E o amor que ambas sentem por ti , nunca morreu. Mas ficam com as memorias que lhes proporcionaste. Com o amor e carinho que lhes deste. Têm tudo guardado dentro do coração.
É engraçado, porque eu já sonhei muitas vezes consigo. Em pequenina, quando dormia com a minha mãe sempre que podia, sonhava sempre consigo. Acordava sempre a chorar. Os sonhos eram estranhos, muito invulgares. E mesmo que nunca o tenha conhecido, a sua imagem invadia muitos dos meus sonhos. Estava sempre na mesma posição. Sempre a andar. Era alto e já velho. O rosto que tinha de si, era de uma fotografia , com a sua enorme moldura que a a minha avó, tinha na sala. Lembro-me de uma vez , ver a minha mãe a chorar e eu lhe dizer "Mãe , ele vai voltar" e ela de seguida já encharcada de lágrimas responder "Não Daniela, não vai". Naquela altura, não tinha a mínima noção do que era a morte. Para mim , as pessoas iam, e voltavam. Mas a vida nem sempre é assim. Nem tudo o que vai volta. E a morte é algo que não dá para voltar atrás. 
Gostava de ter conhecido o grande homem que foi. Gostava de ter memorias suas e poder de chamá-lo de avô. Gostava de lhe ter dito umas quantas coisas. Mas como não pude, digo-lhe agora : o seu grande papel foi desempenhado, na perfeição ; acredite em mim.
Eu cuido delas; prometo tentar fazê-lo.

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